1960 - “Bichos”
Foi dado o nome de “bichos” aos meus ultimos trabalhos pelo carater essencialmente organico que eles possuem. Alem disso a maneira que chei para unir os planos, uma dobradiça, lembrou-me uma espinha dorsal.
A propria organizaçaõ das placas de metal determina as posições do “bicho”, que a primeira vista parecem ilimitadas. Quando me perguntam quais saõ essas possibilidades de movimento, costumo responder:
- “Eu naõ sei, você naõ sabe mas ele sabe”.
Os bichos naõ tem avesso.
Cada “Bicho” é uma entidade organica que se revela em sua totalidade dentro de seu tempo interior de expressaõ.
Tem afinidade com o caramujo e a concha.
É um organismo vivo, uma obra essencialmente atuante. Entre você e ele se estabelece uma interaçaõ total, existencial. Na relaçaõ que se estabelece entre você e o “bicho” naõ ha passividade, nem sua nem dele.
Acontece uma especie de corpo a corpo entre duas entidades vivas.
Acontece, na verdade, um dialigo em que o “bicho” tem repostas proprias e muito bem definidas aos estimulos do espectador.
Esta relaçaõ, anteriormente metaforica, do homem com o bicho, torna-se real.
O “bicho” tem um circuito proprio e definido de movimentos que reagem aos estimulos do sugeito. Ele naõ é composto de formas isoladas estaticas que possam ser manipuladas a vontade e indefinidamente, como num jogo: ao contrario, suas partes saõ funcionalmente relacionadas entre si como as de um organismo verdadeiro; e o movimento dessas partes é interdependente.
Há dois tipos de movimento na relaçaõ estabelecida entre você e ele. O primeiro,
puramente esterior, é o que você faz; o segundo, proprio do “bicho”, é dado pela dinamica interior da sua propria expressividade.
O primeiro movimento (o que você faz) naõ caracteriza o bicho, mesmo porque naõ pertence a ele. A conjugaçaõ do gesto do espectador com a resposta imediata do “bicho” é que caracteriza essa nova relaçaõ, a qual só é possivel porque o “bicho”, precisamente, possue um movimento seu_-uma vida propria.