Lygia Clark

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Textual

1960 - Os Bichos [diário 4]

Tipo de documento
DiárioTipo de documento
Forma de registro
ManuscritoTécnica
DatilografiaTécnica
Idioma
Data aproximada
1960
Data de produção
1960
Linha do Tempo
1
Local (cidade/país)
Autor(a)
Transcrição texto

1960 - “Bichos”

Foi dado o nome de “bichos” aos meus ultimos trabalhos pelo carater essencialmente organico que eles possuem. Alem disso a maneira que chei para unir os planos, uma dobradiça, lembrou-me uma espinha dorsal.

A propria organizaçaõ das placas de metal determina as posições do “bicho”, que a primeira vista parecem ilimitadas. Quando me perguntam quais saõ essas possibilidades de movimento, costumo responder:

- “Eu naõ sei, você naõ sabe mas ele sabe”.

Os bichos naõ tem avesso.

Cada “Bicho” é uma entidade organica que se revela em sua totalidade dentro de seu tempo interior de expressaõ.

Tem afinidade com o caramujo e a concha.

É um organismo vivo, uma obra essencialmente atuante. Entre você e ele se estabelece uma interaçaõ total, existencial. Na relaçaõ que se estabelece entre você e o “bicho” naõ ha passividade, nem sua nem dele.

Acontece uma especie de corpo a corpo entre duas entidades vivas. 

Acontece, na verdade, um dialigo em que o “bicho” tem repostas proprias e muito bem definidas aos estimulos do espectador.

Esta relaçaõ, anteriormente metaforica, do homem com o bicho, torna-se real.

O “bicho” tem um circuito proprio e definido de movimentos que reagem aos estimulos do sugeito. Ele naõ é composto de formas isoladas estaticas que possam ser manipuladas a vontade e indefinidamente, como num jogo: ao contrario, suas partes saõ funcionalmente relacionadas entre si como as de um organismo verdadeiro; e o movimento dessas partes é interdependente.

Há dois tipos de movimento na relaçaõ estabelecida entre você e ele. O primeiro,

puramente esterior, é o que você faz; o segundo, proprio do “bicho”, é dado pela dinamica interior da sua propria expressividade.

O primeiro movimento (o que você faz) naõ caracteriza o bicho, mesmo porque naõ pertence a ele. A conjugaçaõ do gesto do espectador com a resposta imediata do “bicho” é que caracteriza essa nova relaçaõ, a qual só é possivel porque o “bicho”, precisamente, possue um movimento seu_-uma vida propria. 

ID
61798

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