Lygia Clark

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Lygia Clark e o concreto

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Crítica publicada no Jornal O Estado de São Paulo, em 30.09.1958, por ocasião da exposição realizada na Galeria das "Folhas", em que analisa Lygia Clark como o caso mais polêmico da exposição.
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30.09.1958
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Artes Plásticas

Ligia Clark e o concreto

         O caso mais polemico da exposição dos “concretistas”, que está se realizando na Galeria das “Folhas” é o de Ligia Clark. Passam sobre a sua “arte” três explicações, duas de críticos militantes (teorizadores do próprio movimento concretista), os srs. Mario Pedrosa e Ferreira Gullar, e uma dela mesma. A pintora que visa a destruição do quadro, julgou necessário publicar uma explicação mais energica , ou clarividente, acerca do quadro de destruição, integração, como acabou sendo, de espaço no tempo e de tempo no espaço, embora a frase, para os não iniciados, não tenha sentido algum, como qualquer logomaquina.

         A explicação de Lígia Clark, rigorosamente, se insere na do sr. Mario Pedrosa ou na do sr. Ferreira Gullar, mais extensamente. O que ela não registra é a aproximação de sua “evolução” à experiência de Albers, que ambos os críticos cometem, com uma incrivel desconsideração para os setenta anos de vida de Albers e sua carreira de artista e professor, quando a moça Ligia Clark há apenas dez anos começou a estudar pintura, e não mais do que há sete anos travou intimo contacto com a pintura abstrata. A comparação causa especie, mesmo porque os resultados de Albers e os de Ligia estão muito distantes uns dos outros, e embora o critico Mario pedrosa queira filiá-lo á “familia espiritual de Albers”, a filiação de maneira alguma se legitima.

         Quanto á “arte” de Ligia Clark, somos mais modestos em classificá-la em nível diverso das alturas requeridas pelos doutrinadores do “concretismo”; acreditamos que a experimentação dela não realize nada com o tempo. Realiza com o espaço, pura e simplesmente por exemplo, o aproveitamento do quadro que reproduzimos aqui, representativo da última fase da pintora, como ladrilho seria um achado. Estamos, pois, na simples projetação de um trabalho artístico (arte industrial), aplicavel, e acreditamos, com exito, a um espaço a decorar. Poderia ser a parede do banheiro, chão de “living” ou de terraço, coisa assim. não vimos como diz o sr. Ferreira Gullar, que ali “o tempo se espacializa, o espaço se temporaliza”, numa fusão assim definida: “Este quadrado preto é o lugar  de uma precisa duração que é o tempo em que este quadrado se realiza”. Será lugar quando aplicado, como parte integradora da parede ou chão, ocupando espaço. Fora disto não passa de um projeto de ladrilho. Estaremos, então, de acordo em que se trate de um desenho concreto. Arte industrial.

         Naturalmente, deve haver uma explicação psicologica  para que o uso do preto a que chegou Ligia Clark, o preto e do branco, numa sintese negativa do quadro e da côr, identificando-se com “a tendencia suicida” (Mario Pedrosa), tornando-se aquele trecho de Galeria das “Folhas” um verdadeiro ambiente de camara mortuaria. O sr. Maria Pedrosa chama em Ligia Clark “tendencia suicida” “a fidelidade a idéia e a indiferença do artista pelo sucesso imediato”. Mas para isto não precisa haver suicídio nenhum. Toda a arte de vanguarda da mais negativa, neste seculo, como o dadaismo, ao abstracionismo expressionista dos norte-americanos, não cuida senão de manter-se file a uma idéia e indiferente ao exito. Parece-nos, aliás, que para os dez anos de pintura de Ligia Clark ela já teve premios que batem, para justificar, ao contrário, um “sucesso imediato”, como é o seu. De 1952 a 1958, a talentosa pintora já conseguiu quatro premios, sendo um internacional.

         Acreditamos que Ligia Clark, com o que mostra agora em S. Paulo, esteja no fim desse debate no vazio, que é o concretismo, com moldura ou sem moldura, e dê por terminada a evolução que não conduz a nada, não ser que o projeto dos ladrilhos seja industrialmente aproveitado.

         O talento inventivo e a paixão de Ligia Clark devem lhe inspirar alguma coisa mais que a ambição de contribuir, com esses trabalhos “negativos”, “para uma formulação do nosso meio de uma nova sensibilidade”. Oposia, como frisa o sr. Gullar, ao “lucido grafismo de Albers”, a “experiência radical” de Ligia Clark não contribuirá, como a morte não contribui para nada; e o que rejeitamos aqui é a falta de vida, a ausencia de luz e de ar, o confinamento nülista.



Legenda:

Fig1.: “... por exemplo, o aproveitamento do quadro que reproduzimos aqui, representativo da última fase da pintora, como ladrilho, seria um achado”.

ID
6004

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