Lygia Clark

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1957 - Anotações para entrevista a um jornal de Campinas [diário 4]

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DiaryDocument Type
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DatilografiaArt Medium
ManuscritoArt Medium
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PortuguêsLanguage
date
1957
dateBegin
1957
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transcription

1957 (entrevista para um jornal de campinas)

Linha Orgânica

Toda esta minha pesquisa que considero a formulação primaria de um vocabulário para exprimir um novo espaço, começou em 1954, na observação de uma linha que aparecia entre uma colagem e um “parspatou” quando a cor era a mesma e desaparecia quando havia duas cores contrastantes.

Passei a explorar esta linha fazendo quadros ainda com tela e moldura, em que a preocupação era a de arrebentar o núcleo da tela (quadro) levando a mesma cor desta, para a moldura. A própria espessura da moldura já começava a entrar também como elemento plastico (em determinados pontos era pintada em relação á propria composição formal do quadro).

Parei de trabalhar nesta pesquisa 2 anos, pois não sabia como usar este espaço liberto.

Em 1956, achei a relação dessa linha (que não era grafica) com as linhas de junção de portas e caixilhos de janelas e materiais que compoem um assoalho.

Passei a chama-la de “linha organica” pois era real, existia em si mesma. Era uma linha espacial o que só viria a perceber bem mais tarde.

Espaço

Me empreguei como aprendiz num maquetista e Comecei a executar “maquetes” em que esta linha passva a ser utilizada como modulo-grafico-espacial. Já nesta época eu achava a forma chamada seriada insuficiente para com ela se expressar uma obra de arte pois faltava ao espaço tratado desta maneira um sentido expressional. Fiz nesta ocasião uma conferencia em Belo Horizonte na Escola Nacional de Arquitetura, em que eu assim me expressava sobre este sentido: “si a arte concreta prescinde do carater expressional, que sempre foi a carcteristica de uma obra de arte, então é de se supor que ela já se situe, essencialmente diferente de uma obra de arte individual, em si mesma. Daí a meu ver a necessidade de um trabalho de equipe em que o artista concreto poderia se realizar realmente, criando com o arquiteto um ambiente “por si mesmo expressional”.

Tentei formar uma equipe, composta de um arquiteto, escultor, um psicologo (para dosagem da cor em relação á sensibilidade humana.) O progeto seria estudado desde a planta baixa até o fim por todos os elementos da equipe, procurando obter o maximo de integração possivel. Foi publicado na Italia a pedido de Lionelo Venturi, uma tese escrita por Lucy Teixeira expondo nossos planos (em forma de maquetes) fotografadas etc pois muito o interessou como experiencia e novas possibilidades.

Superfície Modulada

Comecei a fazer o que chamo de “superficie modulada” (compondo ainda com formas repetidas) mas considerando-as não como obra de arte, mas simplesmente como um campo experimental para mais tarde integra-las num ambiente. Somente em 1957, realizei ai já consciente do papel desta linha espaço, as primeiras superficies moduladas consideradas por mim expressivas em si mesmas e não mais pensava em termos de integração. A linha – espaço passou a ser realmente o modulo construtor dos planos e era respeitada agindo como delimitadora da propria cor.

Albers

Havia visto gravuras do Albers mas o sentido do espaço em meu trabalho já era totalmente diferente. Albers ainda construia sobre um fundo, ao passo que a minha maior preocupação, era reconstruir toda a superficie para que o passasse a agir sobre elas diretamente.

Superficie [...]

O caráter expressional passou a existir novamente, pois o que eu queria expressar, era o espaço mesmo; e não compor dentro dele. Ao mesmo tempo, tomava conciencia da superficie bidimencional, já existente onde se procurava expressar algo e da superfície como suporte abstrato que seria construida na medida da necessidade de exprimir com ela mesma um espaço. Daí por diante, houve uma constante no meu trabalho. Nesta época, tentava expressar uma certa ambivalencia espacial atravez de solidos em que partes do mesmo se construiam desfazendo sempre as partes contrarias.

Na serie seguinte em 1958 este solido já se expressava planificado num espaço curvilineo. Isso se deu por deixar de cortar com a linha-espaço o vertice de um angulo tendendo a forma a se encurvar automaticamente. De 1957 em diante, passei a usar o preto o branco o cinza, pois não queria que a interferencia da côr expressasse qualquer espaço. Em 1958 o espaço passou a ser expresso como positivo e negativo (branco e preto). Já não havia a necessidade do cinza desde que o solido já se havia planificado. O preto ai já começava a expressar um espaço metafisico. Volto a ter consciencia sobre a diferença do espaço expresso pela força seriada e deste outro espaço.

Visão da arte [...]

Diante de uma composição seriada ha o espectador e a obra. Ele se situa longe dela e ai permanece, tomando conhecimento do espaço utilizando cada forma como ponto de partida e chegada. Ele, o espectador toma conhecimento de um espaço mecanico (tempo). O que eu queria é que ele participasse ativamente deste espaço expresso, penetrando-o e sendo penetrado por ele.

Ele vê menos no sentido otico-mental mas o sente de uma maneira organica.

Espaço modulado

A medida que o espaço de fora espaço-real começou a ser uzado, pensei em utilizar este espaço compondo com o que chamo de linhas-luz (externa)

São superficies completamente pretas só existindo esta linha luz que é externa em alguns bordos desta superficie, interpenetrando-a em verticais ou horizontais. Comecei ai nesta fase o que chamo de “um vocabulo primario” que começa a expressar um espaço-tempo.

A superficie só tem função, como um suporte abstrato (firma ideal) e só passa a existir na medida em que for necessaria para expressar este espaço: Ela passa a ser o tempo em que este espaço deve ser expresso: A linha que recomeça e se desfaz incessantemente é como uma linha luz. O solido que na outra serie já havia sido planificado num espaço curvilineo existe agora em função da espessura da superficie.

Dentro disto cabe a seguinte observação “linhas absolutamente iguais, horizontais e verticais, produzem entre si uma tensão obliqua distorcendo um quadrado perfeito: o espaço se revela ali como um momento do espaço circundante.

A diagonal serve para expressar uma dinamica dentro de uma superficie bidimensional (que é um compartimento espacial dentro do espaço-real) mas neste caso já não é necessaria pois é o espaço real que produz essa dinamica. (a diagonal). Nesta serie o plano passa então a ser a espessura desse espaço.

1957

O plano que sugeria um dos lados do solido na fase da bienal (planos em superficie modulada) e desapareceu na serie B em que o solido já se havia planificado no espaço curvo aparece na ultima serie na propria espessura do quadro, como “objeto vivo”.

ID
61701