Lygia Clark

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Limite - Perpetuação - Medo - Dimensões - Nascimento - Plenitude - Fato [Diário 2]

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DiaryDocument Type
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DatilografiaArt Medium
inLanguage
PortuguêsLanguage
date
1955
dateBegin
1955
timeline
1
author
transcription

1955


Plenitude:

Se recolher cheia e só é o termo.


Fato:

Queriam meu pai e minha mãe um filho

Nasci eu

Não aceitaram a realidade do fato

Nem eu

Qual galho nascido num dia, seco, sem broto

Fui eu

Qual flor na areia, no asfalto

Que sei eu?

Largada, seca de vida, pensava: se disto antes soubessem naõ teria existido.

Sou eu, por engano, num roubo vivi. Roubo por roubo, Deus, que roubei eu?


Limite:

Onde o limite da obsessão e fuga?

A fuga do pensamento : obsessão.

Círculos, círculos, onde a saída?


Eu e os outros, denominador comum, preliminares idênticas,

O fim o mesmo, a morte. Hoje ou amanhã, sempre o mesmo dia

Como um cão raivoso ou um periquito ao luar.


Perpetuação:

Dar a luz significa estar viva. Não se sentir só pois o filho sai da gente. Então é a gente outra vez.

O círculo de novo : desejo de perpetuação.


Medo:

Medo de sentir, medo de ser, medo de naõ ser.


Dimensões:

Tenho planos. Um espia o outro projetando sombras, mudando a realidade. O plano sombreado, reagindo muda de cor, adquirindo profundidades, desconhecidos perigos. Abismo. A deformação da refração: espelho. Deformação da estrutura.


Nascimento:

Hoje sou um galho cortado da árvore que ontem fui.

ID
61867