Lygia Clark

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Eu e Francis discutimos muito sobre meu trabalho. [Diário 1]

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DiaryDocument Type
artMedium
DatilografiaArt Medium
inLanguage
PortuguêsLanguage
dateBegin
10.08.1971
timeline
1
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transcription

10 de agosto de 1971.



Ontem fui jantar na casa de Anete e eu e Francis discutimos muito sobre o meu trabalho. Ele acha que é pena que eu depois de fazer uma obra taõ revolucionaria (no dizer dele) passe para a psicologia onde jamais serei grande coisa. Eu lhe disse que era verdade mas que primeiro eu naõ desejo ser uma psicoanalista mas queria botar o meu trabalho a disposiçaõ de gente que poderia faze-lo render nesse setor. Cheguei em casa super-angustiada sem saber o que seria da minha vida sem fazer arte só vivendo e nem sei se aguenterei.

A noite tive um sonho que me poz muito equilibrada.

Sonhei que Sissi que é a minha nora maluca e cheia de mistificaçaõ mas que respeito na medida em que ela soube o que queria até encontrar segurança casando com Alvaro, tinha tido um bebe e que eu a coloquei na cama com o bebe como para proteje-las. Depois ela escapuliu com o Bebe e foi visitar Elzinha, fiquei furiosa e Alvaro está ao lado e eu o sinto impotente contra mim. Me sinto um bocado severa com Sissi e subo por uma especie de escada perigosissima para ir a tal casa de Elzinha. Naõ tenho medo mas sinto que a tal escada é perigosa. Encontro Sissi muito bem com a garota e naõ está chorando e me recebe rindo muito vital.

Havia acho outra criança, naõ estou certa naõ.

Para dormir naõ desliguei o telefone como sempre o faço alías deixei de faze-lo quando vivenciei outro dia cochilando na cama que estava dentro do mundo e foi nessa noite que sonheir que era o mundo a paisagem etc.

Camargo me acordou telefonando o que me deu uma grande alegria. Levantei-me sentindo bem com o sonho na cabeça, fazendo uma serie de associações. Eu ontem na casa do Helde era uma criança tendo tido uma regreçaõ na conversa: Saindo hoje depois do sonho para fazer compras tive a percepçaõ de repente que eu havia introjectado o conceito dentro de mim da casa é o corpo.

De repente eu vivi O corpo é a casa mas ligando a percepçaõ de que antigamente o corpo me salvava das grandes crizes e que hoje pela primeira vez o inconsciente poderia salvar o corpo. A fantazia para mim é pois: quando havia o conceito A casa é o corpo era ele o corpo que pela vitalidade salvava a mim e me dava força para superar a crise.

Hoje O corpo sendo a casa o inconsciente toma outra proporçaõ e é atravez dele que terei um rumo no futuro e será ele que me fará viver simplismente a vida com toda a serie de conhecimentos que meu trabalho me deu. Na fase A casa é o corpo havia toda a sorte de regreções foi a fase mais dura para mim onde acabei no Lagache. Saindo da crise pude estruturar uma fase em que inverti o conceito. Em geral o conceito é amarrado antes e introgectado depois. Aí que cria a decalage das minhas crises e tambem o meu crescimento. Acho que pela primeira vez amarrei na vida o novo conceito O corpo é a casa que no meu trabalho me religa com o mundo me faz crescer e é oposta as series antecedentes em que o homem era objeto de si mesmo. 

Acho que acabo de entrar no mundo para valer !

ID
65620

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