Lygia Clark

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Comecei a trabalhar em Paris [Diário 1]

documentType
DiaryDocument Type
artMedium
DatilografiaArt Medium
inLanguage
PortuguêsLanguage
date
1967
dateBegin
1967
timeline
1
location
author
transcription

Comecei a trabalhar em Paris e recomecei pelas pedras, natureza pois dinheiro naõ ha e pedras eu cato aqui na rua onde moro. Em seguida comecei a fazer plasticos dentro de sacos que sobram das embalagens de cebolas e batatas que compro...

Fiz tambem uma mascara ligada as maõs (luvas) e para coloca-la na cabeça temos que primeiro vestir as luvas ficando assim com as maõs atadas a cabeça- Tem na altura dos olhos um plastico cheio de ar que tocamos com as maõs enluvadas. Parece mais um peixe pois ainda se ve um elastico que divide o saco verticalmente. Dizem que é aterrorizante e tambem dizem o mesmo dos outros trabalhos que aqui começo a fazer. Dizem tambem que eu boto. pre fora de mim. mesmo essa especie de plastico que parece um ectoplasma. Conversa fiada, quando eu era mais moça isso tinha um nome bem mais simples: sex-appel ! Mistificadores !

Conheci um jovem da exploding galax que se chama Edwards. O rapaz é ultra inteligente e sensivel. Me declanchou uma enorme crise pois vivi atravez dele todo um lado magico que possuo lado esse porem que expreço atravez de proposições e que na vida naõ posso aceitar pois fico inteiramente sem equilibrio. Tive um grande desejo por esse rapaz e a tal ponto que entrei num grande conflito de ordem interior. Ele tem nada menos que 20 aninhos de idade e eu tenho 48 ! A crise no dia de maior intensidade foi terrivel pois ele havia roubado vários guarda chuvas e me troxe todos para minha casa. Saí para fazer compras e na volta ele dormia no sofá da sala e no chaõ ele havia formulado com um dos guarda chuvas uma enorme aranha negra no meio das articulações do metal do mesmo. Fiquei aterrorizada e com uma furia enorme peguei nesse material preto e consegui articular com o mesmo uma proposiçaõ herotica a mais dramatica que já havia formulado. Nesse noite sonhei que estava em pé num grande tecido negro e era preciso mijar em cima para aveluda-lo. Estava mijando um tempaõ quando escutei que me chamavam pois fora haviam duas crianças que se afogavam no mar. Saí e com surpreza descobri que o mar era no ceu e embaixo dele era o espaço. Vi duas crianças que se esforçavam para naõ afogarem e disse_-Deixem, pois eles sozinhos se salvaraõ! No dia seguinte a crise brutal veio pois o desejo era imenso e comecei a vomitar sem parar, saindo na rua com disturbios taõ grandes do vago-simpatico que pensava em morrer.

S. Camargo ficou aflitissimo e foi falar em “abismo” e eu me senti na mesma hora caindo dentro do mesmo. Quase desmaiei.

Ao conhecer esse rapaz no primeiro dia sonhei a noite que estava fazendo amor numa posiçaõ invertida, naõ para variar mas a posiçaõ era essa mesma. O rapaz tinha na parte do plexo solar uma parte que era proibido tocar pois era oca e estava protegida por uma espécie de metal.

Depois da crise sonhei que haviam dois rapazes brigando e pelo espelho de um carro eu via uma bota preta como se a mesma fosse um animal. Em seguida vejo que era uma perna de botas e vejo os dois garotos. Um deu um tiro no de botas e o matou. Sonho ainda que estou na casa do H. Pelegrino e em cada sala que entro vejo pessoas extrangeiras que falam linguas diferentes. Naõ consigo me comunicar com nenhuma delas e desço para o jardim. Encontro na entrada de uma gruta, abismo, um guarda que diz naõ ser possível entrar. Me barram a entrada do abismo.

Ao passar a crise depois que ele se foi me encontro com o Soto e descubro numa noite maravilhosa toda minha feminilidade. Estou uma explendida femea completamente mudada e me senti otima depois da operaçaõ. Comecei a pensar que chorar para mim era muito facil pois chorava para fazer amor. como se fosse sofrimento e tambem na cozinha na hora de fazer as refeições...O encontro foi taõ fabuloso que o Soto me disse coisas que nunca em 64 havia me dito mas desapareceu por completo. Misterio da vida....Sei que ele adorou e depois desaparece ....talvez tivesse sido um encontro de igual para igual que talvez ele naõ possa suportar. Nunca mais o vi! Continuo pois a usufruir toda minha sexualidade sozinha ou a vivo de uma maneira incrivel em relaçaõ a natureza. Quando encosto um braço num tronco de arvore sinto-o como fazendo parte da categoria humana. Quando coloco na palma da maõ 3 pedras sinto como se fosse uma maõ comtra a minha e é sensacional...Outro dia saindo com um brasileiro que hoje adoro ao chegar emcasa descobri ser ele o meu deflorador. Deitada na cama, o senti exatamente como no sonho com o mesmo bigode o mesmo físico e cheguei a sentir o ambiente do seu quarto com os cheiros com uma taõ grande intensidade e tudo isso depois dele ter encostado a maõ na minha perna. Fiquei consternada pois depois de tanto tempo naõ senti nem horror nem odio e ele escapou sendo o que sempre foi de ha anos para cá para mim ! Continuo a gostar muito dele e naõ sei se ele sabe o que descobri. 

ID
65536

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